Tem gente por aí vendendo autoconhecimento ou insinuando que você pode “se autoconhecer”. Vamos partir de um ponto importante: autoconhecimento não é um objetivo, uma meta, uma linha de chegada. É um caminho, um processo, uma jornada para toda a vida.
Afinal, eu e você estamos sempre mudando, em pequenos detalhes. Sabe aquela ideia de que “uma pessoa não atravessa o mesmo rio duas vezes”? Então, é deste ponto que partimos: na próxima oportunidade, nem a pessoa nem o rio serão os mesmos.
Essa jornada do autoconhecimento traz muitos benefícios relacionados com respeito a si mesmo, autoestima e responsabilidade.
Por isso, nesse texto trago 4 caminhos possíveis para você exercitar o autoconhecimento de forma contínua, no seu dia a dia.
1) Amplie sua visão de mundo
A base das ciências do comportamento é comum:
O sujeito se constitui a partir de suas relações com o mundo.
Há muitos desdobramentos teóricos nessa afirmação, mas vejamos o seguinte.
Tanto o que se sabe sobre a formação de um inconsciente quanto aquilo que se estuda das relações comportamentais, é pacífico que a forma como interagimos com o mundo contribui significativamente para nossa formação.
Logo, o autoconhecimento é um processo de compreensão do modo como nos relacionamos com o mundo.
Não se trata apenas de descobrir o “misterioso mundo da minha cabeça”, mas a nossa interação com outras pessoas, com a natureza, com a cultura e, claro, com nossos próprios pensamentos.
Nesse momento, vamos falar sobre o que está além do seu corpo.
Colocar o autoconhecimento em prática requer que você estabeleça relações com o mundo. Estas relações provocam a autodescoberta.
Se formos dividir o processo de forma didática, diríamos que você precisa se descobrir para, então, se conhecer. A descoberta de si mesmo pode acontecer em diferentes situações. As três mais comuns são:
- atividades com outras pessoas;
- exposição a estímulos artísticos de reflexão.
Pessoas são desafiadoras e, por isso, tão importantes.
Autoconhecimento não pressupõe estar sozinho(a).
Falaremos sobre a importância de se sentir bem sozinho(a), mas é preciso ter cuidado. Afinal, descobrimos muito sobre nós mesmos quando estamos sozinhos(as). No entanto, não podemos abrir mão de tantos encontros enriquecedores que podemos estabelecer com os outros.
A chave do autoconhecimento é a percepção da nossa conexão com o mundo, de como reagimos e de como provocamos reações, de como ensinamos e de como aprendemos. Entendeu?
Diariamente, nós fazemos pequenos testes de comportamentos, observamos o resultados disso no mundo e, então, aprendemos a manter ou a eliminar.
Sentir e entregar carinho, ter empatia, ajudar e pedir ajuda são formas de interagir que nos mostram quem somos. Alguns modos de utilizar as relações com outras pessoas para o autoconhecimento:
- perceba seus limites;
- entenda o que deixa você animado(a) ou desconfortável;
- busque os motivos da animação e do desconforto;
- converse, ensine e aprenda coisas novas.
As páginas físicas ou digitais da autodescoberta
Ler um livro é uma dessas formas de estabelecer contato com o novo. Boas páginas fazem você mergulhar profundamente na autodescoberta.
Afinal, muitas histórias são formas de expressar dramas comuns, desafios que nós também vivenciamos.
Assim, o livro acaba propondo um diálogo entre você e quem escreveu; entre você e os personagens.
O resultado é que você vai revelar, descobrir e, quem sabe, conviver melhor com medos, desejos e dúvidas que já estavam aí dentro.
Você pode ficar relutante quando falo sobre leitura e autoconhecimento. Antes de pular para o próximo tópico, lembre-se:
- nem todo livro é feito para possibilitar uma experiência de autodescoberta. Cuidado com as expectativas, beleza?
- se você não tem hábito de ler livros, comece com 1 página por dia.
– “Só uma página, Valter?”
– “Isso mesmo. Só uma.”
Entre as diversas possibilidades, listo abaixo alguns dos meus favoritos.
Excelentes narrativas:
- A Morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstói
- A Hora da Estrela, de Clarice Lispector
- A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera
- Quando Nietzsche Chorou, de Irvin D. Yalom (em inglês)
- Na natureza selvagem, de Jon Krakauer (em inglês)
Se você quiser livros focados em desenvolvimento pessoal sem cair em fórmulas mágicas:
- Inteligência Emocional, de Daniel P. Goleman (em inglês)
- A sutil arte de ligar o f*da-se, de Mark Manson (em inglês)
- Essencialismo, de Greg Mckeown (em inglês)
É claro que o mesmo vale para filmes, músicas e outras atividades artísticas em que você recebe estímulos. Mantive o foco em livros, porque são experiências, de certa forma, na contramão da vida acelerada que levamos.
Além de aprender sobre si com expressões artísticas, você pode descobrir muito observando seus próprios pensamentos. Veja como.
2) Registre seus pensamentos
O registro de pensamentos é outro caminho interessante para o processo de autoconhecimento. “Meu querido diário” é a versão romantizada do que você poderia fazer para colocar em prática.
Prefira fazer uma lista dos principais acontecimentos e comportamentos do dia. Inclua suas experiências: conversas, leituras, filmes, vídeos, músicas, aprendizados, etc.
Faça alguns comentários sobre o que você pensou durante essas atividades e quais os principais comportamentos. Veja um exemplo.
É claro que nos seus registros você pode ser mais pessoal, como em um diário mesmo. Afinal, só você vai ler. Aliás, você pode utilizar esse recurso como um complemento do atendimento psicológico online. A(o) profissional saberá orientar sobre essa técnica com mais detalhes.
Aqui, minha intenção é mostrar que você pode “tirar as coisas da cabeça” e colocá-las no papel Assim, você consegue observar melhor “o que tá pegando” e, também, as estratégias que você tem criado para lidar com isso.
Importante: não anote apenas aquilo que você avalia como negativo. Anote o que foi mais significativo durante seu dia.
Em que isso ajuda no autoconhecimento?
Bom, é mais um passo para a autodescoberta. No passo 1, falei sobre situações e estímulos. No passo 2, mostrei uma forma de você visualizar melhor suas reações a esses estímulos. Viu, passo a passo, porque autoconhecimento é um processo.
Então, você pode perguntar: “Beleza, mas como faz quando fico sozinha(o)?”. Dá uma olhada.
3) Viva experiências de solitude
Vamos falar sobre solitude, que, nos dicionários Priberam e Michaelis, é apenas um sinônimo para “solidão”. Já no Dicio, solitude tem o seguinte conceito:
substantivo feminino
[Poética] Estado da pessoa que está só, sozinha.
Condição de quem se isola propositalmente ou está num período de reflexão e de interiorização.
A diferenciação dos dois termos, oficialmente, não é muito precisa. Como aplicação, utiliza-se solidão como uma situação negativa, associada ao abandono e à tristeza.
Solitude, por sua vez, tem esse caráter voluntário, como uma escolha de estar sozinho(a). Verdade é que nem sempre escolhemos, mas é possível que, mesmo sem opção, não nos sintamos abandonados(as) ou tristes.
Solidão e solitude no Cinema
O Max Valarezo, do canal EntrePlanos, faz essa diferenciação em um vídeo sobre o filme “Into the Wild”, baseado no livro “Na natureza selvagem” – que indiquei acima.
No longa, Christopher McCandless, recém graduado, decide renunciar à sua carreira e fazer um mochilão até o Alasca. Durante a viagem, ele vivencia muitas situações, que são registradas em seu diário.
Além da qualidade técnica e do impacto desse filme, é possível discutir a diferença entre solidão e solitude com base nas ideias de Christopher.
Enquanto as pessoas que o protagonista encontra parecem viver períodos de solidão, em que foram abandonados ou sentem-se dessa forma, McCandless segue sua jornada, apreciando cada detalhe de sua própria companhia.
O filme não assume a discussão de quem está certo, tampouco, defende que a ideia de Christopher seja reproduzida como fórmula da felicidade. Aliás, é possível dizer que o filme e o próprio protagonista sejam contrários a essas fórmulas existenciais.
Christopher coloca em prática algo que pode ter passado pela imaginação de muitos de nós: ele larga tudo para viver o próprio sonho, em uma jornada individual, com os desafios próprios de um caminho como este.
Autoconhecimento e solitude na Psicanálise
A psicanalista e professora Maria Homem também diferencia solidão e solitude. No vídeo para o canal da Casa do Saber, aborda a importância de estar só e se sentir confortável com isso.
Segundo ela, a tristeza, relacionada com a solidão, pode surgir como uma negação, em que “estar sozinho(a)” pode parecer ameaçador.
Assista ao vídeo completo neste link.
A fala da psicanalista e a análise do filme “Na natureza selvagem” nos que:
- é possível sentir-se bem sem nenhuma companhia;
- há muito para ser descoberto sobre nós mesmos na solitude;
- solitude não significa solidão, tampouco, isolamento.
Ficar sozinho(a), por certo tempo, é necessário para que tenhamos a oportunidade de conhecer nossos comportamentos com o mínimo de estímulos de outras pessoas. É, portanto, uma situação oposta à dica 1.
O contato com outras pessoas é enriquecedor, porque podemos descobrir como reagimos e o que aprendemos em situações sociais. No entanto, ficar só também pode ajudar nessa descoberta.
4) Descubra os limites do seu corpo
Sim. Estou repetindo a dica que dei no texto “Precisamos falar sobre home office antes que seja tarde”, mas tenho motivos novos. Exercícios físicos também são sobre motivação e limites.
Para praticá-los, você precisa encontrar motivos particulares. Logo, motivos originais, nascidos e crescidos das suas próprias vivências. Não em listas como esta, beleza?
Além disso, eles ajudam a você reconhecer, respeitar e expandir seus próprios limites corporais. Se você gosta de caminhadas, perceberá que tempo e velocidade são variáveis relacionadas com seus limites.
Aliás, de nada adianta você insistir em correr intensamente durante 1 hora no primeiro dia. É provável que não vai dar certo. Seu corpo ficará esgotado e pode bater aquela frustração.
Isso também é comum na musculação: experimente exagerar no peso. Seu corpo vai dar todos os sinais de arrependimento.
Percebeu? Exercícios físicos também ajudam no autoconhecimento e em suas subcategorias: autoestima, responsabilidade e respeito pelos seus limites.
Ah, e mais uma coisa. Comente o que você achou deste texto.
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Valter Machado
Sou estrategista de conteúdo e redator. Escrevo para oferecer caminhos mais leves para as pessoas alcançarem seus objetivos.
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